terça-feira, 5 de março de 2013

Não basta querer, ver e saber


O amor e o ódio, a relação ou a sua ruptura não dependem apenas do querer, do ver e do saber e não são mera consequência linear da transição existencial, do acidente ou do trauma, nem o simples resultado do desenrolar do programa genético ou da expressão e reacção do corpo.

São também, e essencialmente, produto do conflito interior: dos movimentos do desejo egoísta e omnipotente e da pulsão bruta em busca do prazer cerceados pelo medo, a culpa e a vergonha que a percepção subjectiva da realidade social fabricam. O aparelho psíquico é um laboratório de elaboração da experiência, previsão dos acontecimentos e construção do projecto que funciona a maior parte do tempo abaixo do limiar de consciência, e cujo funcionamento os sonhos, o devaneio, a associação livre, os actos falhados e outras emergências do inconsciente nos informam.

Luz e trevas, razão e afecto, realidade e fantasia enquadram, movem e orientam a pessoa em situação. E se o pensamento lógico e operante (…) permite adaptação ao real, é o livre fantasiar que, abafando por momentos o ruído do saber acumulado, gera, no silêncio feito, novo conhecimento.

A. Coimbra de Matos

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